sábado, 26 de dezembro de 2009

Hospital é credenciado a fazer implante pelo SUS, e entidade critica cirurgia

MONTES CLAROS - A cirurgia para implantação do denominado “ouvido biônico” em portadores de deficiência auditiva está causando polêmica em Montes Claros, no Norte de Minas. O Ministério da Saúde autorizou a realização de implante coclear em pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e credenciou o Hospital Dilson Godinho de Quadros a prestar o serviço de alta complexidade. No entanto, a Associação dos Surdos de Montes Claros (Asmoc) se opõe à iniciativa, alegando que o procedimento é “agressivo”.
Além do Dilson Godinho,em Montes Claros, o Governo federal credenciou mais três instituições no Estado: Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte; Samaritano, em Governador Valadares; e Maria José Baeta Reis, em Juiz de Fora. Esses serão os primeiros municípios a poder realizar a cirurgia na rede pública em Minas Gerais. O procedimento auxilia na recuperação da audição de pacientes com surdez, por meio da implantação de uma prótese conhecida como “ouvido biônico”.

O Ministério da Saúde vai repassar R$ 4,4 milhões por ano para o custeio do novo serviço. A estimativa é a de que sejam feitas até 96 cirurgias por ano, nos quatro hospitais. No implante coclear, um aparelho computadorizado é colocado dentro da cóclea, na parte interna do ouvido. Ele capta os sons e os transforma em sinal elétrico, que é interpretado no cérebro como estímulo sonoro. Além desse dispositivo, o equipamento conta com um processador de fala que fica fora do ouvido.
De acordo com especialistas, o funcionamento desse equipamento difere do Aparelho de Amplificação Sonora Individual, pois possibilita ao usuário perceber o som, e não simplesmente aumentá-lo. Ele deverá ser utilizado por pacientes que obtêm pouco ou nenhum benefício com a Amplificação Sonora.
“Esse processo traz nova perspectiva para os portadores de deficiência auditiva. O equipamento permite que pessoas que nunca ouviram ou deixaram de ouvir recuperem a audição”, afirma a coordenadora de Média e Alta Complexidade do Ministério da Saúde, Maria Inez Gadelha.

O implante coclear começou a ser feito pelo SUS em 2000 e, atualmente, 11 unidades no país estão autorizadas a realizar o procedimento. De acordo com dados do ministério, no ano passado, houve 417 implantes na rede pública e, de 2000 a setembro deste ano, já foram feitas 2 mil cirurgias. O órgão repassa R$ 91.600 para o atendimento de cada paciente. Além do custeio da cirurgia, o valor inclui o preparo do portador de deficiência, com testes de próteses auditivas, avaliação fonoaudiológica e reabilitação.

A portaria que autoriza o hospital de Montes Claros a realizar o procedimento foi assinada no dia 25 de novembro, pelo secretário de Atenção à Saúde do ministério, Alberto Beltrame, em solenidade que contou com a participação do deputado federal José Saraiva Felipe, ex-ministro da Saúde, e do médico montes-clarense Odilio Ribeiro Mendes.
Saraiva Felipe afirma que o serviço alia capacitação de equipe médica e tecnologia de ponta, vai reduzir a fila de pacientes e evitará o deslocamento para São Paulo, onde a cirurgia já era realizada pelo SUS. “Temos profissionais altamente qualificados e o credenciamento é uma antiga reivindicação nossa”, alega.

De acordo com o médico otorrinolaringologista Odílio Ribeiro Mendes, o implante coclear é indicados para portadores de surdez neurossensorial de severa a profunda, decorrente de fatores como surdez congênita, doenças genéticas ou o próprio processo natural de envelhecimento, “quando os aparelhos auditivos clássicos não apresentam resultados satisfatórios”.

A diretora da Associação dos Surdos de Montes Claros, Veronicia Andressa Leite, professora do Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e Atendimento aos Surdos, afirma que o “ouvido biônico” é polêmico, pois muitos especialistas seriam contra a cirurgia, por considerá-la agressiva.

Segundo ela, muitos portadores de deficiência auditiva consideram o implante uma imposição e se recusam a fazê-lo. “Só uma associada da entidade fez a cirurgia”, alega. Veronicia Leite diz que dados da Unicef apontam que 1,5% da população tem surdez, e Montes Claros conta com cerca de 4.200 portadores.


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